quarta-feira, 9 de abril de 2008

Refeição

Primeiramente e antes de mais nada eu preciso que você feche bem os olhos.

Feche e engula tudo que te aflinge, tudo que te incomoda, tudo que te alegra, que te revolta, te contenta, tudo que te tenta (é provável que o acumulo de tensões cause engasgos).

A digestão deve ser paciente.

Após certo tempo o organismo absorve o que se aprendeu com tudo isso, e o indigesto, o que realmente te incomoda, ele excreta.

A lágrima é a excreção.

Escorrida a lágrima, alimentada e limpa a alma é a hora da sobremesa:

Abra os olhos e olhe no fundo dos meus.

Olhe com sinceridade, e perceba que também mantive meus olhos fechados. Compartilhamos por breves minutos a mesma refeição.
Sinta-se igualmente diferente comigo. Sinta-se diferente, sinta-se comigo. Sinta-se.

Tudo que sentir-mos poderá ser classificado como sobremesa. Saborosa.

E é então que vem, o mais simples, porém mais aguardado momento da refeição:
A hora do café e do cigarro.

A refeição simplesmente perde grande parte do seu sentido sem os mesmos.
E assim como um bom café e um cigarro após cada refeição é o nosso beijo após o sentir.

Breve e sujo.
O prazer completamente dispensável.

No entanto inegavelmente necessário.
No entanto brevemente eterno.
No entanto sujamente maravilhoso.

Depois vem o sono.
Dormimos abraçados e sonhamos, para além, muito além das refeições.

(só acordamos para o jantar)