Reajo.
Ligo a vitrola que emite ruídos distorcidos a cada volta do vinil.
O som que sai das suas caixas amplificadas reverbera nas paredes suavemente, imponente.
A parede treme com o barulho que eu queira.
Sinto-me possuídor do poder de escolha.
Decido aleatoriamente derramar música para a parede, e ela a transmite para minha alma.
O caos se estabelece enquanto me ponho faminto por harmonia.
Algumas notas, soltas, loucas.
Não só algumas. Todas.
Engulo um pouco do mundo, da dor, do amor, do horror, dos sorrisos, dos castigos.
Só paro para virar os lados, ou trocar os discos.
E mesmo assim não paro: faço uma breve mastigação e engulo.
Experimento de tudo um pouco.
Desjejum após dias.
Digestão maravilhosa.
Sinto-me mais do que satisfeito.
Sinto-me feito.
Após certo tempo vem o óbvio:
A gula manifesta-se.
Refluxo.