uma taça de vinho,
a tontura que me leva ao teu quarto (sentidos limitam-se a instintos)
a minha presença se faz notável ao seu lado.
desaguo na cama, dois universos unem-se assim deitados, abraçados.
a pretensão de já suspeitar o final destino da boca,
desatina a minha calma. tremores, medo.
um querer assim tão grande, atrai multidões ao quarto
o calor se insta-la.
o alcóol transita pelas bocas charlatãs que se sentem alguem. ridículos.
os risos tornam-se mudos assim como as luzes que se apagam.
o silêncio limita-se aos nossos corações acelerados.
a mão que hesita em tocar a sua face, o medo.
e toco-lhe, com todo o tremor de uma criança que não sabe ao certo por onde palpar, sinto seus olhos que se fecham, sequer enxergo-os, simplesmente sei que eles se fecharam.
sei também que ao tocar sua face, toco mais uma vez a sua alma, alma no momento atenta para a minha mão.
tal mão que a puxa, mas sem que eu queira, puxa como que por instinto,
soubesse aquilo ser o certo, incerto era duvidar, puxa-a até o momento em que já se torna previsível o futuro desses frouxos movimentos. e assim se faz.
os rostos se tocam, hesitam, calma, certeza? o ar quente que sai dos nossos tão conectos narizes se revelam o medo, inseguro, desejo, consumado, beijo.
enfim o beijo. beijo, consumado, desejo, inseguro, medo.
-isso não está certo.
poucas palavras que cortam o meu coração com a faca menos afiada que tens na casa,
menos afiada pois a dor é maior, é a tortura de sangrar sem feridas,
o beijo se interrompe e sangro de costas para ti, viro-me arrependido e descanso calado.
pouco tempo se passa para que você decida novamente brincar com a ferida exposta,
o seu pé toca o meu e me acorda de um cochilo vacilante.
a sua mão que acaricia a minha sem certeza nem convicções.
insegura.
e eu novamente me exponho a tais lascivas armadilhas, novamente me viro pra encarar o caçador e não me importo, até gosto, de ser a caça. me entrego. mas me entrego a uma dor assim de graça. desgraçado eu de tão estúpido, beijo-a novamente com todo o amor do mundo.
o amor não fora suficiente:
- isso não está certo.
impotência:
você dorme. eu choro.