sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Uma dor de cabeça...

Afrouxo os cadarços e o tênis quase que pede para sair. A calça incomoda, mas não me interessa tira-la. Uma Diana Reeves no media player e uma dor de cabeça que não quer passar. O calor de um dia estressante que se dissolve no chão gelado através dos meus pés, agora descalços. A lembrança da ligação dela há hora atrás. As obrigações que até batem a porta, mas que eu faço questão de não ouvir -o escuro prostrativo me parece mais atraente ou ao menos mais produtivo-. Sequer cedo às tentações do prazer -mundanos ou coletivos-. Estou muito bem onde sequer estou. A mente vagando na estagnação.

Pouco consigo lembrar dos meus últimos sonhos. Sou incapaz de definir quando e como foram detalhadamente, o que é normal. No entanto, assusto-me ao fazer as mais frias interpretações sobre as relações entre meu eu e o pouco do meu fictício –o pouco que juro fazer sentido, mesmo sabendo que não faz-. A inconsistência dos meus desejos, dos meus medos, tudo tão evidente e assustador. É como se subitamente me parecesse infantil desejar o mundo, ao passo que o mundo deseja tanto de mim.

- Devo ser monogâmico, flexível e de hipótese alguma ciumento. Amor livre é evolução, mas ame o seu amor e seja fiel como em uma prisão. Devo também ser estudioso, intelectual, crítico e livre dos conceitos prédefinidos pela sociedade, afinal tudo é tão efêmero. Lembre-se: carpe diem. Mas o diem do carpe acaba, e não fazer planos para o amanhã é tolice. A esquerda é desprezar a direita, a direita é desprezar a esquerda e o meio é incompetência ou ociosidade. A barba deve ser meticulosamente bem feita para ser fiel ao desleixo. Esqueça os valores do dinheiro, mas não se esqueça de vestir-se bem. A arte é só uma fase da sua vida que um dia acaba, mas lembre-se: o artista é eterno e imortal. -

Uma Diana Reeves no media player e uma dor de cabeça que não quer passar. A calça que vesti semana passada para ludibriar a minha mente agora me parece tão incômoda –sequer consigo tira-la-. Os cadarços das definições são folgados e os tênis que usei para caminhar ileso pelas ruas das incertezas rasgam a cada passo -como pode haver tantas mentiras no simples ato de caminhar?-. Meus calos são o que me condenam e neles as confusões existenciais urgem para fugir –não, não fujam, nem fiquem-. Se elas fogem eu enlouqueço. Se elas se ficam eu enlouqueço. Não vejo a lucidez na luz do túnel. Quisera eu conseguir lembrar dos meus sonhos –ao menos na loucura deles prevalecia uma realidade livre de compromissos com a coerência-.

Um comentário:

Laís de Almeida disse...

ai, a incorência do coerente, a hipocrisia da normalidade, da mediocridade...
tudo um saco. mas necessário. ou não. mas sobretudo, mto mais do que pode parecer.

adorei. muito mesmo. ;D