sábado, 17 de fevereiro de 2018

Um pouco mais que silêncio.

Tem algo de misterioso e sensual no silêncio.

Uma mistura de desejo engasgado ou delírio contido.

É como se o passar dos dias acumulasse os ânimos de estórias possíveis, e impossíveis também.

É como se você, coberta por uma cortina de incertezas, conseguisse estar aqui e, ao mesmo tempo, em qualquer lugar imaginável.

Ubiquidade? Talvez. Mas com um gostinho de sensualidade.

Porque é fácil simplesmente existir para além da presença física. Quantos momentos em um só dia dedicamos à imaginar paisagens surreais que só poderiam caber em uma mente inquieta e criativa, disposta a dar esse salto rumo à fantasia?

No entanto, pensar em você é como saborear uma lembrança vívida, real, vestida de pequenos detalhes e momentos.

Cada entrelaçar de dedos, cada olhar que durou um pouco mais do que o permitido por etiqueta, cada cansaço, sumiço, reencontro.

E ir despindo-se de cada dedo, cada passo, ruído, segredo, dúvida, rumores, fofocas e lembranças como se fossem peças de um vestuário sobressalente em uma dança erótica — chamada destino?

Até que, nús, só nos reste, para além de toda a especulação, o som dos fogos de uma sereia arquetípica, e o ruído dos seus devotos — reais? — a desembrulharem o presente de um orgasmo sem fronteiras.

Isso. Um só orgasmo. Tangível, verborrágico e transcendental.

Tudo ao mesmo tempo e em seguida, um silêncio.

Sensual, sim.

Característico de quem, sem mais do que desvencilhar-se, torna a vestir a realidade e a imaginação em doses homeopáticas.

Um pouco constrangido, um pouco a vontade, mas imprescindivelmente disposto a escutar mais do que falar.

Posto que não existe muita literatura em uma dança sensual, mas sim um certo fluxo, ponderado, tácito e consciente, capaz de navegar entre a entrega do sedutor e a abertura do seduzido.

Não precisa recitar nem declamar os movimentos dessa dança. Basta com sentir que, através dela, abraçamos toda a existência em uma comunhão sublime.

— Seria isso amor?
— Seria isso, Amor?