Tem algo de misterioso e sensual no silêncio.
Uma mistura de desejo engasgado ou delírio contido.
É como se o passar dos dias acumulasse os ânimos de estórias possíveis, e impossíveis também.
É como se você, coberta por uma cortina de incertezas, conseguisse estar aqui e, ao mesmo tempo, em qualquer lugar imaginável.
Ubiquidade? Talvez. Mas com um gostinho de sensualidade.
Porque é fácil simplesmente existir para além da presença física. Quantos momentos em um só dia dedicamos à imaginar paisagens surreais que só poderiam caber em uma mente inquieta e criativa, disposta a dar esse salto rumo à fantasia?
No entanto, pensar em você é como saborear uma lembrança vívida, real, vestida de pequenos detalhes e momentos.
Cada entrelaçar de dedos, cada olhar que durou um pouco mais do que o permitido por etiqueta, cada cansaço, sumiço, reencontro.
E ir despindo-se de cada dedo, cada passo, ruído, segredo, dúvida, rumores, fofocas e lembranças como se fossem peças de um vestuário sobressalente em uma dança erótica — chamada destino?
Até que, nús, só nos reste, para além de toda a especulação, o som dos fogos de uma sereia arquetípica, e o ruído dos seus devotos — reais? — a desembrulharem o presente de um orgasmo sem fronteiras.
Isso. Um só orgasmo. Tangível, verborrágico e transcendental.
Tudo ao mesmo tempo e em seguida, um silêncio.
Sensual, sim.
Característico de quem, sem mais do que desvencilhar-se, torna a vestir a realidade e a imaginação em doses homeopáticas.
Um pouco constrangido, um pouco a vontade, mas imprescindivelmente disposto a escutar mais do que falar.
Posto que não existe muita literatura em uma dança sensual, mas sim um certo fluxo, ponderado, tácito e consciente, capaz de navegar entre a entrega do sedutor e a abertura do seduzido.
Não precisa recitar nem declamar os movimentos dessa dança. Basta com sentir que, através dela, abraçamos toda a existência em uma comunhão sublime.
— Seria isso amor?
— Seria isso, Amor?